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Erro Fatal: Desfibrilador não foi acionado no atendimento ao jogador Morosini

A morte do jogador italiano da equipe do Livorno, Piermario Morosini, em decorrência de uma parada cardíaca que aconteceu durante o jogo contra o Pescara, apenas algumas semanas após o episódio dramático com Fabrice Muamba chocou a Itália.

Nossas dúvidas quanto ao devido uso do desfibrilador levantadas neste blog, e naquela ocasião, baseada unicamente pelas imagens do incidente proporcionadas pela televisão, vieram a ser confirmadas pelo testemunho de vários membros do corpo médico que estavam no local onde o jogador foi atendido.

Sabemos agora, que os três desfibriladores que estavam disponíveis no campo e na ambulância nunca foram utilizados. Tal fato é muito estranho, e na verdade vai contra as normas básicas dos procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP).

De acordo com o depoimento de Marco Di Francesco, um dos enfermeiros no campo, o desfibrilador nunca foi usado, apesar do fato que ele havia pleiteado em vão o uso do mesmo com um dos médicos, que naquela ocasião havia atendido Morosini.

Outros comentários feitos por membros da equipe médica que participaram da operação de resgate, após o incidente, são também muito esclarecedores e devem ser analisados minuciosamente pelos investigadores. Algumas dessas declarações são importantes, pois são capazes de nos dar uma boa idéia sobre a mentalidade e o conhecimento desses indivíduos, em relação aos procedimentos básicos das técnicas de ressuscitação cardiopulmonar.

O Doutor Leonardo Palloscia, um dos médicos que estava assistindo a partida e veio ao campo prestar atendimento, disse à imprensa italiana que ele não tinha certeza de qual seria a importância que os desfibriladores poderiam ter dentro da ambulância no caso do atleta, pois o percurso até o hospital foi muito curto – sendo de apenas três minutos. Na verdade, o comentário do Dr. Palloscia é suspeito, pois qualquer cardiologista ou membro de uma equipe de resgate poderia afirmar, que três minutos em um incidente envolvendo uma parada cardíaca é uma eternidade e pode de fato fazer a diferença entre vida e a morte. Assim sendo, parece que alguns indivíduos responsáveis pelos procedimentos de resgate não estavam cientes sobre tal fato.

Em recente entrevista, ao perguntar ao Dr. Stefano De Servi, renomado cardiologista italiano e autor de diversos estudos científicos, sobre o fato de que o jogador não estava conectado a um desfibrilador, ele afirmou que “conectar um paciente que está sob suspeita de sofrer uma parada cardíaca a um desfibrilador e monitorar o seu eletrocardiograma (ECG), é um conceito elementar e uma das primeiras coisas que alguém deve fazer em uma situação como a qual se encontrava Morosini.” O cardiologista ainda complementou, “Este é um conceito básico que é sabido por todos e até mesmo do conhecimento de uma pessoa, que acabou de concluir um simples curso de 3 horas sobre ressuscitação cardiopulmonar.”

Segundo, o Dr. Ernesto Sabatini, integrante da comissão técnica da equipe do Pescara em afirmação à imprensa italiana após o incidente, “a presença de um desfibrilador não teria contribuído de forma alguma para salvar a vida do jogador.” Tal declaração só poderia ser levada a sério se o Dr. Sabatini possuísse poderes paranormais, ou seja, uma habilidade inédita de saber qual o ritmo, que o coração de um ser humano se encontra em qualquer momento. Infelizmente, ninguém possui esta capacidade. Assim sendo, o Dr. Sabatini só poderia afirmar com certeza, que o desfibrilador não poderia ter salvo Morosini, se o jogador tivesse de fato sido conectado ao aparelho eletrônico.

O fato de Morosini não ter sido conectado ao desfibrilador é lamentável, pois seria muito provável que em algum momento durante o incidente que ele sofreu, o jogador poderia ter tido um ritmo cardíaco que fosse propício à desfibrilação.

Desta maneira, em esclarecimento, o médico legista Dr. Cristian D ‘Oviedo determinou que Morosini não morreu instantaneamente, o que leva a acreditar, que ele poderia ter tido a chance de sobreviver se ele estivesse conectado ao desfibrilador. Por essa razão, passamos a crer ser bem provável que o coração do jogador entrou em fibrilação ventricular – um tipo de ritmo cardíaco que possibilita a desfibrilação logo depois de ter sofrido a parada cardíaca.

Deste modo, fica cada vez mais claro que os procedimentos básicos das técnicas de ressuscitação cardiopulmonar não foram seguidos à risca, pois não havia nenhum plano para atender às necessidades de um jogador na eventualidade de uma dramática circunstância como a que afligiu Morosini.

Em consequência disso, é bem possível que todos os fatos e afirmações pertencentes ao caso, levarão a procuradora geral Valentina D’ Agostino à averiguação dos mesmos, em busca de provas suficientes para montar um processo de negligência médica contra os envolvidos. Eventualmente, responsabilizando-os pelos erros cometidos durante o atendimento, os quais podem ter eliminado as chances de sobrevivência do jogador.

Fonte: https://www.estadao.com.br/esportes/ricardo-guerra/erro-fatal-desfibrilador-nao-foi-acionado-no-atendimento-ao-jogador-morosini/

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